E quando a palavra falta

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Ter o que dizer é sinal de que vivemos

Ontem me dei conta de que me falta vergonha na cara! Uma apaixonada por blog, que fez jornalismo por amor à arte de traduzir ao grande público informações, sentimentos em palavras de repente abandona seu blog – que ela ama, onde extravasa – pois acha que não tem muito o que falar.

A questão é sempre temos o que falar. Daí alguém vem e solta “tá Gabriela, logo tu, a adepta do famoso ditado das duas orelhas e uma boca”. Sim, eu mesma. Releia a frase. Quero dizer que sempre temos O QUE dizer. Não significa que temos QUE dizer. E O QUE eu quero dizer com isso?

Ter o que falar ao fim do dia é descobrir coisas simples como que o sentir do frio significa agradecer por roupas. Ou então tomar um banho quente e perceber que uma única gota fria pode estragar o grupo todo – assim como com as pessoas. Já falei aqui sobre o chuveiro da minha avó. Isso é ter o que dizer.

Seja sobre o que você comeu, o que vestiu, se não tinha acetona para tirar o esmalte da unha. Qualquer coisa deve servir de lição, até porque no final vida é o resultado de tudo isso. O que vivemos está diretamente relacionado com o que aprendemos e isso só se registra se tivermos o que dizer.

São suas lições que farão sua vida valer a pena. E nessa onde de ter o que dizer, vale tudo: sussurros, gritos, gargalhadas, monólogos, diálogos, textos. Só não vale ruído. Também não vale eco, mas abramos uma exceção para o ecoar de inspirações positivas.

Que você tenha muito o que dizer, nem que seja para Deus ao fim da noite. Nem que seja para o ursinho de pelúcia que é o psicanalista da madrugada (eu ainda prefiro infinitamente Deus, mas, cada um, cada um).

Todos os P’s de Poppe

Hoje é aniversário do Inter.

Hoje tô atolada de trabalho.

Hoje deu uma saudade da faculdade.

E dos amigos. Por isso fica aqui a lembrança de um dos textos que eu mais gostei de fazer na vida. E com o lead mais tri de todos. Méritos aos meus colegas de grupo, Gabriel Gabardo e Carolina Chaves.

 

Todos os P’s de Poppe

Inédita no Brasil, comunicação do Inter para o Centenário valoriza marca e faz crescer o clube

 

Produto, Preço, Promoção, Praça. Quando desembarcou na capital gaúcha em 1901 e passou a trabalhar no comércio, Henrique Poppe Leão não conhecia o Composto de Marketing definido em 1960 por Jerome McCarthy, caracterizado pelos “quatro P’s”. É possível que ele tenha vivenciado na prática a influência dessas variáveis entre os clientes da loja Ao Preço Fixo, onde ganhou seus primeiros salários em Porto Alegre. Mas se Poppe deu alguma contribuição ao setor comercial do século que seguiria, foi em 4 de abril de 1909. Naquele domingo, fundou um clube que desperta em milhões de seguidores – e consumidores – o que os profissionais da área chamam de “quinto P”, próprio do marketing esportivo: a Paixão. 

 

“Mas não adianta ter grande paixão por um clube se não houver o que se possa vender, entregar, jogar na mão do consumidor”, ensina Wesley Cardia, especialista em marketing esportivo e único dirigente com passagem pelos dois grandes clubes de Porto Alegre. Por isso, 98 anos depois de sua fundação, o Sport Club Internacional já preparava estratégias para celebrar os 100 anos de forma inédita no futebol brasileiro. “Em 2007, definimos que as comemorações iriam de 4 de abril de 2008, quando começou o ano 100, até 4 de abril de 2010. Nesse período, nossa meta é atingir 100 mil sócios”, explica Leandro Koehn, gerente-executivo de marketing do Internacional.

 

Uma pesquisa sobre os centenários de outros grandes clubes do Brasil e do Exterior detectou que, em geral, as comemorações não passavam de um evento oficial. Em raros casos havia uma atividade diferenciada: o River Plate (ARG), por exemplo, realizou uma caminhada semelhante à organizada pelo Inter em 4 de abril. Surgiu aí o conceito dos festejos colorados: “O Centenário de todo mundo”, com ações descentralizadas e grande participação da torcida.

 

No final de 2008, a agência Novacentro assumiu a conta publicitária do Inter e começou a dar corpo à comunicação do Centenário. “A campanha tem dois objetivos: emocionar pessoas e fazer com que elas tomem uma atitude. Pensamos nas origens do Inter como Clube do Povo, que congrega todo mundo”, conta Marcelo Firpo, diretor de criação. Assim, as peças carregam o mote “Nada vai nos separar” – verso popular nas arquibancadas do Beira-Rio – mas cravam diretamente a mensagem publicitária: “Seja sócio”.

 

Foram criadas peças para mídia exterior, impressos, rádio e internet. O vídeo da campanha, onde a agência buscou um apelo emocional maior, estreou como conteúdo no programa de Galvão Bueno no canal SporTV antes de ir ao ar como anúncio nacional. Para essa veiculação, foram utilizados créditos que os filiados ao Clube dos 13 têm – mas só o Inter utiliza – na negociação com a TV. “Isso contribuiu para uma campanha relativamente barata”, avalia Leandro Koehn. Apesar do bom momento financeiro devido à venda de jogadores, o clube não mistura dinheiro do futebol com publicidade: o Centenário foi bancado com recursos do departamento de marketing, que fatura cerca de R$ 16 milhões por ano.

 

Rara entre clubes do país, a abrangência nacional da publicidade do Inter busca capitalizar a marca com outra estratégia: ser o segundo time no coração dos brasileiros. A meta é trabalhada em todas as oportunidades de exposição. O jogo Brasil X Peru, realizado no Beira-Rio e válido pelas Eliminatórias, entrou no calendário oficial do Centenário.

 

Para Wesley Cardia, a valorização da marca faz o clube crescer: “Uma comunicação do Centenário para trazer mais sócios, para o Brasil inteiro saber dos cem anos e conhecer a marca, automaticamente torna o clube mais importante”. Mas faz uma ressalva: “Não há trabalho excelente de marketing se o time não ganha”.  

 

Koehn concorda: “É um ciclo: para o futebol estar bem, o clube tem que estar estruturado, e vai conquistar melhores resultados no marketing se está bem dentro de campo”. O técnico do time, Tite, confirma esse reflexo no vestiário. Ainda que o Centenário tenha passado longe das palestras de motivação (ele confessa ter trocado de canal ao ver as comemorações na TV), a comunicação ajuda no ambiente de trabalho: “O Inter é pródigo na capacidade de valorizar e mostrar o clube da forma como ele é. Isso é gratificante para todos os profissionais”.

 

 Após atingir 83 mil sócios no início de maio, os desdobramentos da campanha do Centenário terão ações direcionadas e de fidelização. Em 17 de dezembro, terceiro aniversário do título Mundial, os sócios poderão assistir à Ivete Sangalo e Zeca Pagodinho no Beira-Rio, de graça. Assim, a campanha pioneira do Inter valoriza a marca e, mais ainda, o “quinto P” dos seguidores de Poppe. 

 

A lição de um Cão

Sempre relutei com academia. Sério. Mas sempre gostei de malhar. O problema é chegar até lá. E até hoje só gostei de um lugar. Por causa dos vidros. Gosto de entre uma contagem e outra de calorias ver a mãe que passeia com seus três filhos e que para porque a roda do carrinho do bebê trancou.

Aprecio ver aumentar o número de pessoas em torno de uma estatua viva enquanto sobem também os quilômetros rodados. Embora o mundo seja mal, me faz bem aprecia-lo. Divagar sobre ele. E isso influencia minha escolha de horários para malhar. De manhã cedo, entre boêmios que ainda não voltaram para casa ou trabalhadores que já têm muito o que fazer.

Na parte da tarde os matões de aula e o nicho mais variado de pessoas. À noite não gosto. Fica escuro e, sendo assim, igual a qualquer outro lugar onde modelamos nosso corpo – o pôr do sol, no entanto, é incrível e projeta um lugar onde eu gostaria de morar.

Falei de pessoas, amo divagar sobre elas. São elas que fazem meu tempo passar mais rápido enquanto o marcador diz que ainda faltam quilômetros e calorias a percorrer. Porém, na última visita à academia fui cativa por um ser: um cão, porte médio, não sei dizer o sexo, visivelmente era de rua só que não estava com maus tratos ou com fome. Marrom e com rabo longo ele passeava pelos arredores e, nesse passeio subia as escadas de uma galeria. Parava na porta, demonstrava vontade de entrar, dava meia volta e descia contentando-se com a sombra da calçada. Isso por umas três ou quatro vezes.

Minha lição veio de um ser parecido com esse

Minha lição veio de um ser parecido com esse

Ele tinha vontade de entrar ali. Não havia ninguém – exceto dentro das lojas – dizendo para que ele não fizesse e, mesmo assim ele não entrou. Isso me levou a pensar o que você deve estar pensando agora: “embora não haja alguém nesse momento dizendo os limites para ele, em algum momento ele ouviu muitos ‘nãos’ e aprendeu”.

Eis o ponto: ele aprendeu.

Vivemos em um mundo invasivo, em que a distância é minimizada e a presença afastada. Pessoas criam laços baseados em quem não enxergam. O que os olhos não veem o Facebook conta, ou o twitter, ou  o Google+ ou o Instagram. E esquecemos dos afetos. Não queremos mais saber da vida das pessoas para se alegrar com elas, consolá-las, ou oferecer uma oração. Queremos saber da vida das pessoas por saber da vida das pessoas. Isso quando não para nos envenenarmos com inveja, fofoca, amargura…

O cachorro aprendeu que não era para entrar ali, mesmo a porta estando aberta. E eu saí da esteira pensando que bom seria se nós fossemos assim em relação ao que vivemos.

Inocência

“quero ser como criança Te amar pelo que És. Voltar à inocência e acreditar em Ti. Mas às vezes sou tentado…Pela vontade de crescer…”

Minha ideia inicial nesse post era falar de leitura e da importância dela na minha vida. Ia pincelar coisas sobre a importância de se organizar para não ser soterrado pelo tempo e das loucas sensações de se estar andando em círculos. Porém algo hoje desviou minha atenção. Na verdade não desviou, apenas deu uma alterada na rota.

Esse fator de desvio tem pouco mais de três quilos, 49cm e atende pelo nome de Benjamin. Na verdade ele não atende ainda, pois nasceu dia 18, ou seja, há menos de uma semana. Mas, já encanta quem o visita. A pergunta é: O que o Benjamin tem com meus devaneios absurdos sobre a vida andar em círculos (já até esqueci a leitura a essa altura do campeonato)?

A resposta é que ele é a válvula para que eu começasse a pensar, juntamente com uma coisa ou outra vista na internet, sobre a crise dos 20 e poucos anos. Sabe aquele dizer manjado que fala que primeiro é as festas de 15 anos, depois de formatura, depois casamentos, depois nascimentos. Pois é, o Benjamin foi a primeira visita que fiz à uma amiga que teve bebê.

A chance de parar é agora, apreciem a beleza da foto postada aí em baixo. Reflitam sobre a beleza da expressão no rosto dessa criança de 4 dias. E eras isso, daqui para frente irei desabafar.

Benjamin, 4 dias e um olhar amorosamente expressivo para seu pai, Felipe.

Confesso que falar sobre esse momento me faz parar mais de uma vez ao longo desse texto. Pois ele é a carta branca da minha inocência. Reflete que eu passei a ver sentido em coisas que antes eu não entendia. E sem ter a chance de escolher trancar-se no quarto e ouvir música. TUDO se tornou uma questão de opinião e não é possível fugir;

Dia a dia, você trata de começar a se entender, sobre o que quer e o que não quer. Suas opiniões se tornam mais fortes. E nesse ritmo passa surge uma intolerância no julgar o próximo. A inocência deu as costas e virou consigo a candura. E de repente, você tem certos laços em sua vida e adiciona coisas a sua lista do que é aceitável e do que não é. Às vezes, você se sente genial e invencível, outras… Apenas com medo e confuso. Como quando criança, e que saudade de chamar a mãe para dormir junto. Não, não é um sonho. É preciso acordar amanhã de manhã.

E nessa onda de julgamentos e indecisões você começa a perceber que o mundo é lindo, mas que é mais egoísta. E que isso é culpa das pessoas. Daí se dá conta que daquele círculo gigantesco de amigos sobraram apenas alguns e que nem todo mundo era quem se pensava. E que algumas promessas, juras, pedidos e confissões ficaram para trás.

Isso tudo acontece porque a inocência daquelas pessoas também já se perdeu. Assim como você elas aprenderam a rir com vontade e em contraponto chorar com menos lágrimas e mais dor.

De repente, você tenta agarrar ao passado como quem agarra ao vento, se dando conta de que o passado se distancia mais e que não há outra opção a não ser continuar avançando. Você se preocupa com o futuro, empréstimos, dinheiro… E com construir uma vida para você. E enquanto ganhar a carreira seria grandioso, você não queria estar competindo nela. E o que você queria então?

Casar? Ter filhos? Concluir uma faculdade? Eu, sinceramente tenho saudade da falta de noção que a inocência traz. Você não precisa traçar uma rota… Você sabe o que quer e segue. Não olhar pra fora do foco, não mensura o erro. Apenas vai. Sinto saudades de viver assim. Mas, acredito que apesar de toda a crise, e de toda a confusão a inocência continua sendo fundamental. É ela que restaura nossa fé.
Somente no primeiro amor é que somos plenos. E pra isso, muitas vezes é preciso não parar de buscar nunca. Sabe pq? Simplesmente porque não existe impossível para aquele que não perder a inocência. E ser expressivo e reconfortante como me foi o Benjamin. Um feixe de luz em meio ao caos adulto.

Acho que ainda sei falar de futebol

A primeira vez que eu vi o He-Man não foi um dia feliz. Returno de 2011, Beira-Rio com o maior público da temporada e 2×1 para o Fluminense no placar final. Acredito que foi naquele domingo de sol que o sonho de ser campeão brasileiro se apagou.

A frustração da torcida colorada daquele dia, essa semana se transformou – pelo menos nome – em outra coisa: esperança. Daí surge a pergunta: o que o inter quer com mais uma contratação na frente com a zaga ultrapassada que tem? Como um time que tem do meio pra frente o quarteto “DA” mais Forlán pode investir em mais um nome? Porque celebrar a vinda de Rafael Moura?

Simples, pois a irregularidade dos jogadores colorados sobressai a qualidade tática. Precisávamos de um herói. De alguém que trouxesse algo que à muito o inter não consegue: segurança.

Quando Fernandão tiver o luxo que Dorival não teve, de ter todo seu time titular a disposição, Moura provavelmente vai para o banco. Mas, deixando no gramado o que uma série de lesões e convocações para diversas seleções têm tirado: referencial.

O esmalte e a vida

Não! Não é postiça!

Toda a terça-feira de manhã é dia de edição onde eu trabalho. Mas, antes desse ritual desgastante eu visito a manicure em seu primeiro horário. Sei que parece uma frase fútil, porém é uma questão quase que vital para quem trabalha com as mãos o tempo todo. Gravando, no caso.

Para contextualizar sem perder o foco o que acontece é mais ou menos assim: pouco mais de 40 minutos depois do momento mulherzinha eu posso olhar religiosamente para meu polegar esquerdo e haverá uma falha no esmalte, todas as vezes, exatamente no mesmo lugar.

Não sei se são as chaves, se é a forma que abraço minha cadela ao retornar. Não sei se é a forma de contar o dinheiro ou o papel higiênico. Sei que a tal marca de esmalte falhado sempre está lá. Uma vez escrevi um texto sobre a influência da acetona na vida (parece um lixo, mas o texto até é bonitinho, clica aqui e lê), agora decidi falar um pouco sobre a marcha na minha unha. Sei, é bizarro. Mas, já parou quantas vezes falhas se repetem nas nossas vidas e a gente não sabe por quê?

Vira e mexe estamos emaranhados nos mesmos erros, olhando pelas mesmas janelas, ouvindo as mesmas músicas e se perguntando “mas por quê?”. Nos últimos tempos aprendi que meu melhor amigo está no céu olhando por todos aqueles que acreditam num milagre chamado cruz. Infelizmente ainda tem muita gente que não acredita e fica ali que nem eu quando volto da manicure: “poxa que droga, falhou de novo e eu não sei nem por onde procurar o erro”.

O fato é que sem foco jamais acharemos o que nos faz cair. Eu vou tentar pelas chaves na terça-feira que vem e você?

Esse tipo de reflexão aleatória me faz lembrar o chuveiro da minha vó…mas isso é assunto pra uma outra vez 🙂

Ps.: Tenta Cristo! É muito bom!

Ps2.: Lê o texto da acetona, ele é bonitinho 🙂

Encontros da janela

Sabe aqueles dias em que tu senta na janela e parece que nada mais faz tanto sentido assim? Que tu olha os carros passar e pensa nos investimentos que tu fez, se eles foram os certos, se eram eles o melhor pra ti. Sabe aqueles dias em que tu olha pela janela e respira fundo o ar da rua por que naquele momento se não fosse a tua fé perfeita tu poderia jurar que o vento era a única coisa que te preenchia.

Pois é, num dia assim passa uma pessoa na tua janela. Tu tem um delay para reconhecer, mas em instantes sai correndo: “IEDA”. Ela se vira e também tem um delay – menor que o meu, para minha sorte – e logo sorri. “Minha querida, como tu tá?”

Daí eu conto que virei jornalista. Ela pergunta do coração. Eu dou um sorrisinho e prossigo: “virei jornalista agora faço tv”. Ela se emociona visivelmente. Entende que eu não quero falar de mais nada que não seja o jornalismo e me abraça. “Seja sempre muito feliz”. Coloca um despertador com o dia e a hora do meu programa e sai. “IEDA”, eu grito novamente. Ela se vira e eu falo “eu fiz jornalismo por causa do texto”. Ela sorri e me deixa com uma frase que emocionou a ambas “como é bom ser professora”.

Ieda, para quem não sabe ou ainda não adivinhou foi minha professora de português da época do colégio. Português e redação. Eu sempre gostei de escrever. Ela nunca me deu uma nota máxima em uma redação. Aliás, sempre mediana. E aquilo aumentou a minha gana por querer sempre escrever melhor para arrancar um elogio da Ieda.

Nunca consegui o elogio que eu queria, mas, consegui uma vaga em jornalismo com uma nota altíssima na prova de redação. E, no dia da minha formatura de ensino médio conversei com ela sobre isso. Foi quando ela me disse: “a gente não pode fazer estacionar quem sabe que tem potencial. Tu  jamais terias explorado teu dom se tivesse vencido de primeira”.

Emocionada, voltei para minha janela melancólica. Dessa vez relembrando com carinho as minhas aulas de português e sentindo saudades da época em que a minha maior preocupação era arrancar um elogio da “sora” Ieda.

Pensamento capilé bagunçado

Cabeça cheia é uma coisa na vida da gente. Vai acumulando, acumulando e quando vê: não se consegue botar nada para fora. Essa sou eu hoje após torcer pela seleção, fazer uma reunião de trabalho e também o sono da digestão e ao acordar me deparar com pilhas de decupagens, armários desarrumados e livros não lidos.

Daí tu pensa: quero falar sobre os cachorrinhos mega fofos que eu fiz matéria na quinta. Ah! Sexta eu fiz matéria de um baile que renderia uma história fictícia tão legal. Só que daí o amor tá longe a gente não se inspira em escrever histórias. E lembra que às vezes a melhor história é a sua própria. Como num dia qualquer em que se decide desligar o celular e ir ao cinema numa tarde de agosto. Assim, como se não precisasse trabalhar ou fazer qualquer outra coisa… Mas acho que isso é assunto para outro dia.

Queria mesmo, há mais dias falar da minha relação com a minha cidade natal, São Leopoldo e também com o processo de escolha da corte da cidade. Só que confesso que estou com aquela tarde citada aí em cima na cabeça e mais as pilhas e pilhas e pilhas de decupagem que falei ali em cima – acabei de lembrar que tenho a correção de um livro.

Tenho um apego especial por São Leopoldo. Não só por ser minha cidade natal, mas por ter aprendido longe dela o que realmente significavam raízes. Quando dei a ideia de poder gravar a festa da cidade como repórter, foi a realização de um momento muito bacana. Mesmo sendo feriado, acordei super disposta a trabalhar naquele dia. E lá, não foi diferente. Entrevistei, entrevistei, entrevistei, gravei, gravei, gravei…. E cheguei até a Corte 2012.

Eu e a Corte 2012

Meninas lindas, simpáticas, bem articuladas que me fizeram lembrar de quando eu lá nos 18 anos participei dessa seleção. Não foi eleita nada. Mas fiz grandes amigas. E, principalmente desfiz – lá em 2008 – aquele preconceito que quem concorre a alguma coisa por beleza é fútil, vazio ou coisa assim. Não aqui, não com meninas que escolhem representar a cidade por amor.

Eu era assim, e vi nos olhos daquelas soberanas que não eram somente belas que elas também estavam ali por isso…

As finalistas 2008, conseguem me achar ali?

Me peguei pensando em como eu teria representado a cidade naquela época e descobri que faço isso melhor como jornalista hoje… Mas isso não tira a minha admiração pela Corte da Cidade e ainda acho que quando eu for velinha, vou concorrer à Oma¹, só para poder contar tudo isso para alguma repórter novinha que estiver dando sopa na São Leopoldo Fest.

olha eu aí

🙂

1) Oma é avó em Alemão

O programa especial que fiz na São Leopoldo Fest2012 pode ser conferido aqui. E não acreditem na mentira do youtube de que ele tem 2 horas pois não tem 🙂

O texto que publiquei sobre isso em 2008.

Recomeço

Saudação aos amigos do Facebook nesse período de transição:

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É difícil justificar o porque você faz algo. Existem coisas que a gente faz na vida simplesmente pq gosta. Não que dizer que se seja excelência nisso, ou naquilo: mas é fundamental que se seja apaixonado por isso ou por aquilo. Assim sou eu quando escrevo: uma apaixonada. Não quer dizer que eu almeje alguma coisa, mas significa que se eu não fizer isso, morreria. Seria seca. Acho que é por isso que fiz jornalismo: por amor pelas letras, pelo texto, pela expressão.

Cresci vendo Carrie Bradshaw, “adolesci” chorando em torno de Martha Medeiros, amadureci com Jabour (o verdadeiro, não aquele que publicam no Facebook, assim como o Verrissimo), no entanto não quero o brilho e nem o talento nem nada. Apenas um espaço. O meu espaço, o meu universo.

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Cresci com Carrie Bradshaw, adolesci com Martha Medeiros

E como não sei desenhar como o personagem amigo do príncipe de Saint Exupéry, eu escrevo.
Não posso prometer histórias, ou crônicas, poemas ou poesias. Já tive fases, já tive fezes, hoje tenho apenas algumas opiniões. Não sei como vou escrever, mas sei que preciso para não engolir os pensamentos que descem como fogo. Aliás, essa é a origem do nome do endereço do blog: pirofagia (a arte de engolir fogo).

Para mim o fogo é o cotidiano, e o ato de o engolir é a escrita. Por isso escrevo: pq não sei desenhar.

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Se soubesse desenhar, talvez não escreveria

No mais sou Gabriela, sem cravo e com um pouco de canela (principalmente se for no café). Jornalista por formação e principalmente por amor. Gaúcha que aprendeu morando fora que o bairrismo é uma característica sim! Mas não do gaúcho e sim de qualquer pessoa que tenha um LAR. Colorada, apaixonada por futebol mas revoltada com a intolerância que o esporte gera em algumas pessoas. Cristã convicta de que Jesus Cristo está muito acima de uma placa de igreja. Gosta de música, trabalha na TV e dá um trabalho. Gosta de livros, gosta de chimarrão, não bebe refrigerante, não come salada, mas gosta de doce, quindins e caramelo. É
extremamente mal-humorada e absurdamente amada. E quando o assunto é amor, todo o resto vira detalhe.

A casa da minha vó

Um banho quente. Algo simples, mas que me fez viajar grandemente até o mais agradável da minha mente: minha infância. A água corria nas minhas costas e enquanto o condicionador agia nos meus cabelos crespos analisava tudo naquele cenário que me acompanhava há pelo menos 23 verões.

As paredes em tons marrons descascadas pela água. Ah! A água, até o chuveiro era o mesmo. Aquele fracote que nos impedia de brincar nas gotas dele. Caía a energia. Não aguentava o tranco de duas primas da mesma idade penteando uma ao cabelo da outra. E fazendo espuma. Muita espuma.

Sai a dirigir pelas ruas vazias e fui longe. Andei pelas casas dos meus vizinhos, hoje em dia todas cercadas. Lembrei de como era boa a época em que ao invés de 2 pinheiros tínhamos cinco. E o muro, esse era meramente ilustrativo não tinha meio metro de altura. Três fileiras de tijolos. Neles sentávamos, aproveitávamos a sombra dos pinheiros que eram cinco. Um para cada primo. E eu, a garotinha de apartamento insistia em ficar presa nas árvores. Sempre soube subir. Sempre tive medo de descer. Sempre, até de escada rolante. Mas isso é outra história.

Me obriguei a reduzir quando passei pelo campinho que jogávamos vôlei, nessa época já era adolescente. Lembrei dos sorvetes, das risadas, dos momentos de liberdade por se estar no litoral. Do amor de verão. Já percebeu como as pessoas se apaixonam no verão? Eu muito me apaixonei no verão e pelo verão.

Por fim, sentei na calçada olhei para o pinheiro que restou. Senti a brisa que só o litoral tem e pensei. Como é possível que um lugar simples, como o chalé de madeira da minha vó, pintado caprichosamente de amarelo com aberturas brancas guarde tantas lembranças. Na parede uma placa que eu dei em um natal qualquer:  “Aqui somos todos loucos – uns – pelos – outros”.

Espalhamos nossa loucura pelo mundo, nos dispersamos. Seguimos família, mas alçamos os nossos próprios voos. Aprendemos a soltar os laços feitos caprichosamente pelos mais velhos Não nos vemos mais sempre. Nossos horários dispersos nos consumiu. No entanto, não é preciso estar sempre perto para se estar perto. Basta não se permitir ficar distante.

No peito o saudosismo feliz de quem encerra mais um veraneio. Almejando ir cada vez mais alto. Cada vez mais longe. Desfazendo as amarras. Fazendo novas escolhas. Passou o carnaval, feliz ano novo. Ainda que sem nunca perder a noção da velha placa da parede.