A casa da minha vó

Um banho quente. Algo simples, mas que me fez viajar grandemente até o mais agradável da minha mente: minha infância. A água corria nas minhas costas e enquanto o condicionador agia nos meus cabelos crespos analisava tudo naquele cenário que me acompanhava há pelo menos 23 verões.

As paredes em tons marrons descascadas pela água. Ah! A água, até o chuveiro era o mesmo. Aquele fracote que nos impedia de brincar nas gotas dele. Caía a energia. Não aguentava o tranco de duas primas da mesma idade penteando uma ao cabelo da outra. E fazendo espuma. Muita espuma.

Sai a dirigir pelas ruas vazias e fui longe. Andei pelas casas dos meus vizinhos, hoje em dia todas cercadas. Lembrei de como era boa a época em que ao invés de 2 pinheiros tínhamos cinco. E o muro, esse era meramente ilustrativo não tinha meio metro de altura. Três fileiras de tijolos. Neles sentávamos, aproveitávamos a sombra dos pinheiros que eram cinco. Um para cada primo. E eu, a garotinha de apartamento insistia em ficar presa nas árvores. Sempre soube subir. Sempre tive medo de descer. Sempre, até de escada rolante. Mas isso é outra história.

Me obriguei a reduzir quando passei pelo campinho que jogávamos vôlei, nessa época já era adolescente. Lembrei dos sorvetes, das risadas, dos momentos de liberdade por se estar no litoral. Do amor de verão. Já percebeu como as pessoas se apaixonam no verão? Eu muito me apaixonei no verão e pelo verão.

Por fim, sentei na calçada olhei para o pinheiro que restou. Senti a brisa que só o litoral tem e pensei. Como é possível que um lugar simples, como o chalé de madeira da minha vó, pintado caprichosamente de amarelo com aberturas brancas guarde tantas lembranças. Na parede uma placa que eu dei em um natal qualquer:  “Aqui somos todos loucos – uns – pelos – outros”.

Espalhamos nossa loucura pelo mundo, nos dispersamos. Seguimos família, mas alçamos os nossos próprios voos. Aprendemos a soltar os laços feitos caprichosamente pelos mais velhos Não nos vemos mais sempre. Nossos horários dispersos nos consumiu. No entanto, não é preciso estar sempre perto para se estar perto. Basta não se permitir ficar distante.

No peito o saudosismo feliz de quem encerra mais um veraneio. Almejando ir cada vez mais alto. Cada vez mais longe. Desfazendo as amarras. Fazendo novas escolhas. Passou o carnaval, feliz ano novo. Ainda que sem nunca perder a noção da velha placa da parede.

 

About Gabriela Schuch

Gabriela do hebraico enviada por Deus. Schuch por alguma descendência alemã. Gaúcha com passagem pelo norte. Filha única. Colorada que aprendeu que futebol é bom somente enquanto traz paz. Jornalista em formação, “escritora” por terapia. Não é explícita, odeia falar ao telefone, não sabe nadar, andar de bicicleta ou falar de amor. Não bebe, não fuma e se diverte muito. Descobriu tarde o verdadeiro conceito de amizade. E nunca mais o largou. Se surpreende com obviedades e acredita que a culpa disso é dos valores que se inverteram. Acredita em borboletas no estomago e também nas pessoas. Não sabe confiar pela metade, não sabe desgostar pela metade, não consegue amar pela metade. 8 ou 80, nada de meio termo. Para ela, mais complicado que a vida é ser gente grande. Se tornou mulher com jeito de criança. Uma tímida extrovertida que lá do topo da árvore aprendeu a sentir amor próprio. Beleza atrai, conteúdo convence. Quer convencê-la e ganhá-la? Impressione pelo seu caráter. Seja transparente. Não vulgarize o verbo amar e diga a VERDADE sempre. Muitos dizem que ela mudou. Se afastou da multidão. Mas a verdade é que ela cresceu embasada no que o passado ensinou e agora sabe muito bem onde coloca seus pés. Em uma rocha firme chamada JESUS CRISTO. Ela acredita, confia e sabe que nada é sem a misericórdia de Deus que se renova a cada manhã. Os muitos que falam não conseguem entender que não é uma questão de ser manipulado. É uma questão de crer, e crer é pensar. Atualmente tem a marca da promessa e a convicção de que foi escolhida desde o ventre pra fazer a diferença nessa geração do avivamento. Por isso fez uma aliança com o pai: adora somente a Deus, espera no Senhor e sabe que sangue de Cristo tem PODER. Tem plena certeza que Jesus a ama - assim como AMA você e está te esperando de braços abertos – e por isso anda com Ele sempre. E se cair Deus levanta, assim como só Ele tira aquilo que Ele deu. Seu futuro? Não há dúvida onde há fé e por isso ela não porque teme já que sabe que o Pai está cuidando e que ele não demora, apenas capricha. Assim segue ela. Com os olhos fitados para cima, pois como disse o profeta Zacarias: "Porque aquele que tocar em vós toca na menina dos olhos de Deus".

Uma resposta »

  1. Thaís Furtado

    Ainda bem que tu não sabe desenhar! Se bem que tu sabe desenhar páginas, não é? Bem legal, beijão!

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  2. Mais um belo texto. Como é bom rememorar as lembranças da infância e bons momentos vividos. Eles são assim, como um belo banho na casa de praia. Começam com as primeiras gotas que caem do chuveiro e vão aumentando com o cair das outras.
    :D:D:D
    Ah! O sorvetão é ali no centro 😛 heeheh
    bj

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